Programa Residências Oficinas

Diogo Borges Ferreira

Isto é não um Monumento. Isto não é uma Procissão. Isto é uma Rua.

Como nos relacionamos com o espaço público e que valor lhe atribuímos? Partindo desta questão, constrói-se uma reflexão sobre como vivemos, percecionamos e hierarquizamos o espaço urbano.

Enquanto elemento instrumental na organização e dinamização da Cidade, a Rua reflete as dinâmicas da vida urbana e os múltiplos usos e significados que lhe atribuímos. A Rua dos Manjovos — um gesto urbano pós-medieval cuja relação com a antiga muralha e nova centralidade é essencial — ilustra bem a incapacidade de reconhecermos o valor de elementos arquitetónicos frequentemente negligenciados no imaginário coletivo. Transformá-la num espaço verdadeiramente público é, portanto, essencial. Recuperar a sua relevância passa por resgatá-la como um território de afinidade, revitalizando o sentido de pertença e permanência que a define no organismo citadino.

Neste sentido, e reconhecendo o papel constitutivo dos Museus como espaços de produção e dinamização do domínio público, a intervenção propõe o desenho de uma série de objetos expositivos que, estrategicamente distribuídos ao longo da Rua, apresentam trabalhos que dialogam com a sua circunstância urbana e cultural. Tendo como provocação a instalação I am a Monument, de Eduardo Souto de Moura e Ângelo de Sousa, e a performance Modern Procession, de Francis Alÿs, estas peças não pretendem monumentalizar, mas antes atuar como dispositivos de memória e provocação — concebidas como objetos híbridos entre funcionalidade e expressão que convidam à permanência e interação estimulando novas formas de apropriação e significado. Lembrando-nos de que a Rua não é um Monumento nem um Museu, mas um gesto urbano político e social cuja vitalidade deve ser manifestamente mantida.

Diogo Borges

Diogo Borges Ferreira (1997, Portugal) é Mestre em Arquitetura pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto e Technische Universität München, com uma especialização em Modern and Contemporary Art and Design pelo MoMA/Coursera. • Ao longo do seu percurso, colaborou com a Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, Universität Stuttgart, Porto Academy, Casa da Arquitetura, Carrilho da Graça Arquitetos e ATA Atelier. Atualmente, exerce funções como arquiteto investigador no escritório MASSLAB. Paralelamente, é coautor e coeditor do Mnemonic Studio, colaborador informal da plataforma Architects Declare Portugal, consultor independente de relações públicas, editor de conteúdos no ArchDaily e investigador independente. • Com uma trajetória que se estende para além da prática da arquitetura, tem contribuído para diversas publicações e plataformas além de ter participado em diversas exposições coletivas e individuais. É membro fundador da Associação da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços da Guatemala, reforçando o seu compromisso com iniciativas de colaboração internacional.


dborgesferreira.arq@gmail.com
@diogo__bf

Matilde Ribeiro & Ricardo Figueiredo

300 escudos de algae

Existem registos, desde praticamente a fundação do Reino de Portugal, sobre a apanha de algas por toda a costa portuguesa, existindo uma documentação especialmente rica sobre a sua prática na zona litoral entre Viana do Castelo e o Porto, assim como a tentativa de regularização e controlo desta atividade e, em particular, uma forte restrição da participação da mulher.

Ao longo dos séculos, ao longo das praias e usando a noite como véu, sorrateiras, continuavam a ir a apanha e, assim como as leis estão documentadas, também as peripécias que desencadeavam, e as estratégias adotadas pelas mulheres para evitarem a coima.

É a visão sobre o feminino e o contraste com os personagens dogmáticos, tipicamente religiosos, que dão forma à experimentação e ao imaginário nesta residência, resultando em representações irónicas, surrealistas e enigmáticas.



Esta residência reflete-se numa exposição que inaugura dia 1 de MARÇO na Galeria Barca d'Artes pelas 16h30.

Diogo Borges

Ricardo Figueiredo, Nascido em Viana do Castelo, formou-se na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto com uma licenciatura em Design de Comunicação (2017-2021). Atualmente, frequenta o Mestrado em Design Gráfico e Projetos Editoriais na mesma instituição, onde desenvolve a dissertação "Nielo, uma reconstrução histórica". • O seu trabalho é multidisciplinar, abrangendo desde o design funcionalista até às artes plásticas. Em 2019, participou na exposição coletiva de Desenho do Corpo, realizada no ICBAS, após um rigoroso processo de seleção. Nesse mesmo ano, integrou a exposição coletiva do Festival "Aldeia de Lobos", em Fafião. Desenvolveu trabalhos para várias associações, incluindo a Casa das Artes do Porto e o Programa Erasmus da U.P. Em dezembro de 2021, liderou a equipa que relançou a revista "[UP]arte", onde assumiu o cargo de Diretor Editorial, dedicando um ano à publicação que visa divulgar a comunidade artística da U.P. • Desde 2021, colabora de forma horizontal com diversas associações de Viana do Castelo, como a AISCA, a ACAM, a Artmatriz e a ACDCA. Em 2022, fundou um coletivo informal de design com a designer Catarina Ferreira, realizando vários projetos em parceria. Em 2023, juntamente com três colegas de Viana do Castelo, venceu o concurso Viana Jovens com Talento com o projeto “EM.PRESSÃO”, no qual atuou como promotor, organizador e designer. Em 2024, obteve apoio da Direção Geral das Artes para a segunda edição do projeto “EM.PRESSÃO”. No mesmo ano, foi novamente premiado com o Viana Jovens com Talento pelo projeto “Rua Malandra”. • Nos tempos livres, gosta de passear, jogar voleibol e tomar café no Girassol com o Manuel, onde discutem possíveis projetos. É bem-humorado e descontraído, com uma paixão especial por gravura calcográfica e tipografia. Participa ativamente na comunidade, organizando eventos culturais.

ricardotj95@hotmail.com
@ricardf95


MATILDE RIOS RIBEIRO (Porto, 1999) é licenciada pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, no curso de Artes Plásticas especialização em Pintura. •Desde 2018, tem participado regularmente em exposições coletivas em locais como a Reitoria da Universidade do Porto e oMuseu da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP), entre outros. •Salienta-se ainda a sua participação na exposição inserida no contexto do 9º Prémio Abel Manta, no Museu Municipal de Arte Moderna Abel Manta em Gouveia e a distinção com uma Menção Honrosa no 20º Concurso Aveiro Jovem Criador no Museu de Santa Joana em Aveiro. •Em 2021 frequentou, em contexto do programa ERASMUS+, a Universidade de Belas Artes de Dresden, Alemanha, onde integrou o atelier de Christian Sery, expondo o seu trabalho em conjunto com outros artistas internacionais.•É, desde 2019, uma das artistas residentes da Associação Cultural Ars Longa Vita Brevis (AL859), onde desenvolve o seu trabalho.

riosribeiro.matilde@gmail.com
@mtldribeiro

Manuel Brásio

Sonotopias de passagem de nível. Como quem ouve-pensa pela primeira vez.

Permite-me sugerir. Pára e respira. Pára mesmo. Estica as costas, relaxa o corpo. Respira fundo. Fecha os olhos e volta a respirar, fundo, sempre fundo.

Tão fundo como lentamente. É importante que seja assim, l  e  n  t  a  m  e  n  t  e.

Como quem não tem nada para fazer. Pelo menos nas próximas horas. Sem pressas. Respira fundo. Escuta(1).


O que ouves?
Quão perto ou longe está?
De onde vem esse som — de dentro ou de fora?
Que histórias conta sobre este lugar?
E se pudesses apagar um som, o que escolherias esquecer?
O silêncio que ouves é real ou imaginado?
Há algum som que incomoda? Porquê?
Consegues perceber sons que estavas a ignorar até agora?
Como te soa o teu próprio corpo?
Será que alguém, agora, te está a ouvir?


Já respiraste fundo? É mesmo importante respirar e manter o foco.

É quase uma meditação mas não é só para dentro. É ouvir como isto que existe fora de nós ressoa cá dentro enquanto escutamos o que a cabeça tem para dizer a (quase) todo o momento.

Parece-me consensual que vivemos rodeados por estes enxames de ruído 24/7. Estes fluxos intermináveis de sons que nos deixam a boiar à superfície das coisas, interferindo com a nossa capacidade de mergulhar e pensar em profundidade. Diria que precisamos de sossego, de parar, fazer (activamente) silêncio, escutar — e pensar. É urgente! Ou estou a ser demasiado exigente?

Neste tempo pós-histórico(2) onde a revolução nos parece impossível, sugiro que penses no escutar como um ato de resistência.

É isso que me interessa, agora, pensar, investigar. Como parar, respirar fundo e escutar antes de prosseguir pode ser um acto interventivo, impulsionador de mudança

Longe de querer oferecer respostas e de te observar a ouvires-me, gostava que aceitasses este convite de me acompanhar e me ajudasses na procura de mais e melhores perguntas.


Quando começas a pensar, deixas de ouvir?
O que muda quando páras para escutar?
Consegues sentir o som mudar a tua respiração, o teu ritmo cardíaco?
Há algo que queres afastar — ou aproximar?
O silêncio está vazio ou está sempre preenchido?
O que acontece quando o som desaparece?
O som vem de ti ou do mundo?
Quem está a ouvir? Tu ou o som?
Quando lês estas perguntas, que voz ouves?
E essas vozes que ouves — são tuas ou de outros?
Que vozes são essas que te constroem as memórias, que te conduzem o presente, que te desenham o horizonte do futuro que te espera?


Talvez, escutar seja: Estar. Aqui e agora. E perguntar o que este lugar — e este tempo — tem para nos dizer?



Esta residência reflete-se numa exposição que inaugura dia 28 de MARÇO na Galeria Barca d'Artes pelas 16h30.

Diogo Borges

1. Merleau-Ponty (1945): Phenomenology of Perception // Ihde (1976): Listening and Voice: Phenomenologies of Sound // Nancy (2002): À L’Écoute // Feld (1982): Sound and Sentiment: Birds, Weeping, Poetics, and Song in Kaluli Expression // Schafer (1977): The Soundscape: Our Sonic Environment and the Tuning of the World // Oliveros (2005): Deep Listening: A Composer's Sound Practice // LaBelle (2010): Acoustic Territories: Sound Culture and Everyday Life // Cage (1961): Silence: Lectures and Writings.

2. Fukuyama (1992): The End of History and the Last Man // Derrida (1994): Specters of Marx: The State of the Debt, the Work of Mourning, and the New International // Žižek (2002):Welcome to the Desert of the Real // Butler (2004): Precarious Life: The Powers of Mourning and Violence // Newman (2010): The Politics of Postanarchism // Fisher (2009): Capitalist Realism: Is There No Alternative?



Nasci em 1992 em Viana do Castelo, cresci na maravilhosa aldeia de Perre. Sou uma espécie relativamente comum de artista-canivete suíço que, tanto por necessidade como por curiosidade, acumula funções - de compositor, performer, produtor, investigador e professor. • Licenciado em Composição pela ESMAE e Mestre em Multimédia: Música Interativa e Design de Som pela FEUP, Doutorando em Educação Artística (FBAUP) e bolseiro da FCT, investigo sobre formas de ouvir, pensar e criar sobre o mundo, procurando na escuta uma possibilidade de resistência anti-neoliberal. • Habituado à composição e sound design para concerto, teatro, cinema e outros media, sou também baterista e percussionista freelancer. Tenho trabalhado mais recorrentemente com Thörne, a Sonoscopia, a Palmilha Dentada, o Teatro do Montemuro e, agora, esta gente Malandra. Sou sócio sobrevivente da AISCA, membro activo da Associação Portuguesa de Gagos e cocordenador da Interferência, juntamente com Camila Menino e José Tiago Baptista.

www.manuelbrasio.xyz
www.interferencia.pt
manuelmlbrasio@gmail.com
@m3r451o

Manuel Rodrigues Almeida

Retratos de quem passa.

Ao longo de um período de cinco meses, esta residência visa documentar de forma sistemática, através do retrato a óleo, as pessoas que habitam e trabalham na rua dos Manjovos, em Viana do Castelo.

Para o efeito, as pessoas serão convidadas a posarem durante 1 a 2 horas em sessões de retrato que terão lugar no Atelier 82. A participação enquanto modelo será aberta a todos os interessados, com prioridade aos residentes e trabalhadores locais. O resultado final destas sessões será objeto de uma exposição com o propósito de apresentar um retrato da comunidade daquele local.

Diogo Borges

Pintor, nascido em Viana do Castelo onde fez a sua formação inicial. Frequentou até 2010 a Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto. Desde então dedica o seu trabalho ao desenho e à pintura, com especial interesse pela figura e retrato. • Participou em várias exposições individuais e colectivas um pouco por todo o país, como a exposição dos finalistas do prémio: "A Arte Chegou ao Colombo", no Museu Berardo, em Lisboa. Desenvolve trabalho e um espaço expositivo no seu atelier, bem como aulas de desenho. • Desde 2021 faz parte da Direcção da Aisca e tem contribuído na Coordenação do Departamento de Artes Plásticas da Associação, na produção e execução.


manuelrodriguesalmeida.com
instagram.com/manelrodriguesal
manueljrpa@gmail.com

Inês Meira

Entre o real e o remix

Este projeto celebra a rica herança musical de Viana do Castelo, enquanto a reimagina para novos horizontes artísticos. O principal objetivo é transformar a música tradicional folclórica, preservando a sua essência cultural, sonora e simbólica, mas reinterpretando-a através de uma abordagem contemporânea influenciada pela música eletrónica.

A residência artística constitui um espaço de investigação e experimentação, onde se explora a ligação entre passado e futuro. O processo envolve pesquisa de repertório gravado, gravações em campo e colaborações com músicos locais para criar composições únicas que oferecem novas perspetivas sobre as sonoridades tradicionais.

Como parte dos resultados desta investigação, está prevista uma exposição interativa que combina elementos visuais e sonoros. Telas ilustradas com desenhos representativos da cultura local, serão acompanhadas por QR codes que permitem aceder a duas faixas de áudio: uma que apresenta a música na sua forma tradicional e outra que a reinterpreta através da música eletrónica.

Este projeto procura refletir sobre o património cultural de Viana do Castelo, explorando formas de o manter vivo através de novas perspetivas artísticas e tecnológicas, sem pretensão de definir ou limitar os resultados da investigação.

Diogo Borges

Inês Meira, natural de Viana do Castelo, iniciou os seus estudos em violino na Academia de Música de Viana do Castelo. O instrumento tornou-se o ponto de partida para uma exploração criativa que ultrapassou os limites da música clássica. Formada em Produção e Tecnologias da Música pela ESMAE e com experiência em Sound Design para projetos de cinema, moda e instalações audiovisuais.• Klin Klop, o seu alter-ego artístico, reflete a sua paixão por unir ritmos e melodias de forma inovadora. O nome, inspirado pelo significado de “som” e “batida” em Afrikaans. Apresenta-se em DJ sets ou em formato banda, conjugando música eletrónica com instrumentos ao vivo.• O trabalho de Inês explora constantemente o cruzamento entre o som, a tecnologia e a tradição, criando experiências imersivas e únicas que têm marcado a sua trajetória artística.


klinkklop@gmail.com
@klin_klop

banco_voador
banco_voador